Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


Pensamos que o Diário Gráfico melhora a nossa observação, faz-nos desenhar mais e o compromisso de colaborar num blogue ainda mais acentua esse facto. A única condição para colaborar neste blogue é usar como suporte um caderno, bloco ou objecto semelhante: o Diário Gráfico.


Neste blogue só se publicam desenhos feitos de observação e no sítio

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

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Normalmente uso cadernos “nobres”… capa dura, papel com gramagem alta, ligeiramente texturado, etc. No simpósio em Lisboa, em conversa com o João Catarino, falava-lhe na relação de amor/ódio que mantinha com estes cadernos. Por serem muito bons, por vezes, criam insegurança e inibição, como se a página branca dissesse: “Ok… podes desenhar. Mas cuidado! Calma. As coisas não podem sair muito más…”. Claro que usar estas páginas para apontamentos corriqueiros do dia-a-dia está completamente fora de questão! É uma ditadura. O João respondeu-me: “Pois… ainda não lhe perdeste o respeito.”

É isso. É ter demasiado respeito por um caderno que é demasiado nobre. Solução? Fui à procura de um caderno bem menos nobre, pelo qual não tivesse respeito absolutamente nenhum. Queria um caderno que fosse realmente um diário gráfico. Onde fizesse não só os registos como também todos os gatafunhos inerentes a este objecto. Dos números de telefone, passando por pequenos apontamentos e citações, até ao ponto de gastar páginas porque a caneta simplesmente está a falhar.

Encontrei-o no Continente… uma imitação foleira de Moleskine, da marca Book.It (marca lançada pelo grupo Sonae para artigos de papelaria). Custou €3.99! Muito pouco nobre, o papel é MESMO foleiro, e até o cheiro era pouco agradável assim que o abri.

Enfim, não tenho um pingo de respeito por ele e estou a adorá-lo por isso! O registo é livre, espontâneo e finalmente deixei de andar com dois cadernos.

O próximo passo será encontrar um equilíbrio entre os dois extremos. Acho que já tenho ali um candidato na prateleira com papel Inart de 120gr… (obrigado Ketta)

11 comentários:

Vitor Mingacho disse...

Pode-se desenhar em qualquer suporte e com qualquer meio (toalhas de mesa, papéis soltos, esferográficas copm publicidade, ...), desde que a técnica se adapte aos meios.

A qualidade e preço dos materiais podem ser intimidadoras no momento de desenhar.

hfm disse...

É intimidante mas o papel ajuda... penso eu...

Os Laloran são uma delícia para os médios utilizados.

Maria Celeste disse...

...andava um bocado intimidada com o caderno que «ganhei» no simposium de Lisboa que continua inacabado...
...achava que o papel era mal empregado...
...o teu testemunho ajudou...
Obrigada

Henrique Vogado disse...

Também tinha esse receio com os melhores cadernos e acabava a fazer como um espumante que temos em casa, a guardar para as melhores ocasiões.
Passei a usá-los da mesma maneira para todos, tirou-me um peso da consciência e escuso de andar com vários cadernos em simultâneo.
Acho que a tua questão vai resolver a de muitos de nós.

Fernanda Lamelas disse...

Obrigada pelos vossos testemunhos, já vi que não estou só!

Tiago Cruz disse...

Obrigado pelos vossos comentários! Cada vez mais faz menos sentido (para mim) andar com dois cadernos. Grande parte das notas que faço não têm que ver com o desenho à vista mas sim esboços e estudos para criar outras coisas, apontamentos vários, preparação de aulas, etc… fazer isto num papel de 180 ou 200gr faz-me confusão. É mais forte do que eu… não consigo. Mas por outro lado não me faz confusão nenhuma desenhar e conseguir tirar partido de um papel de 80gr. O ideal será encontrar o melhor dos dois mundos…

Traço disse...

Como eu compreendo...Na verdade sou um apaixonado pelos cadernos e de facto ainda não consegui encontrar aquele polivalente. Ou serve para desenhar, mas não serve para a aguarela, ou serve para as duas coisas mas com tanta qualidade que intimida a cada risco.
Vou pesquisar esse do Continente. Deixo aqui o desafio à estimada Keta para idealizar o caderno "perfeito" em todos os aspetos.
Obrigado pela partilha

Tiago Cruz disse...

Obrigado pelo comentário. Cuidado que este é mesmo muito mau para aguarelar (o que depois acaba por dar efeitos interessantes). Mas se procuras um bom caderno para aguarelar, no sentido mais convencional, então algo com uma gramagem mais alta é sem dúvida o ideal…

Rosário disse...

Gosto dos desenhos e esta conversa ajuda a afastarmos os nossos fantasmas sobre a qualidade do papel! Eu acabo por ter vários cadernos iniciados com desenhos!Uns são muito bons e tenho medo de estragar e depois nunca mais chegam ao fim e outros são maus e por vezes tira-se partido do que corre mal e outras temos que seguir em frente e esquecer...

Eva Vieira disse...

Eu como até hoje nunca tive possibilidades de expandir o meu poder economico na compra de melhores cadernos, usei e abusei dos maus...(com bons e maus desenhos) com péssimas aguarelas em folhas sem gramagem... a questão é que a necessidade do desenho nao se deixa abater pelo suporte que nao tenho. Agora Tiago resolvi investir num laloran lindo para ver se os desenhos também saem melhores! :) sugeria entao uma caderno que satisfizesse todos, com folhas de boa e ma gramagem num só.

Tiago Cruz disse...

Parece-me que o importante é adaptarmos o media às nossas necessidades, nunca deixar que o contrário aconteça, experimentar coisas novas e aceitar que as nossas necessidades vão sendo alteradas com o tempo.

São fases… Agora ando numa de diários pouco nobres porque isso leva-me a perder o respeito ao caderno (no bom sentido) e, consequentemente, leva-me a um registo mais "livre", mais informal, mais despreocupado, etc…